Como a aparência jovem pode afetar sua carreira

Abri meu próprio escritório de advocacia aos 26 anos de idade.

Cheia de sonhos e expectativas de sucesso comuns a essa faixa etária, tão inconsciente das dificuldades práticas do mundo corporativo.

De fato, não posso reclamar, porque as coisas acabaram funcionando bem. Por um certo acaso, e não algo extremamente pensado, acabei me especializando em uma área de atuação – o que facilitou bastante meu crescimento profissional.

O segredo foi que levei para a carreira toda uma bagagem pessoal construída desde a infância e que acabou por me tornar naturalmente uma especialista no assunto.

No entanto, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que demonstrava muito conteúdo, meus clientes estranhavam minha juventude. E, na advocacia, como em tantas outras áreas, a juventude não transmite a mensagem da expertise.

Parecer mais jovem do que a idade que temos pode ser um inconveniente e impactar radicalmente na forma como nossa competência é vista, e até mesmo determinar o tipo de trabalho que escolhemos.

Essa percepção de juventude pode vir da estatura física, da composição corporal ou das roupas que usamos, por exemplo. Mas o motivo mais estudado é a “carinha de bebê”. 

(A carinha de bebê) é realmente uma constelação geral de características“, diz Leslie Zebrowitz[1], professora emérita de relações sociais da Brandeis University, nos Estados Unidos, uma das responsáveis pela descoberta desse fenômeno.

Ela explica que essa condição costuma prever um rosto liso e redondo, maxilar pequeno, nariz delicado e olhos grandes, enquanto indivíduos de aparência mais madura geralmente têm olhos menores, maçãs do rosto mais angulares, narizes maiores e o cenho mais acentuado.

Sabidamente as pessoas com “carinha de bebê” parecem jovens porque, literalmente, elas lembram bebês e suscitam os mesmos comportamentos de proteção que temos com essas crianças, então são automaticamente considerados afetuosos, confiáveis e gentis. E esse efeito se aplica independentemente da idade real.

Isso pode ser porque pessoas com rosto de bebê são vistas como tendo menos “controle pessoal” — definido como competência, domínio ou capacidade de realizar seus objetivos — do que outras no início ou no meio da idade adulta, assim como indivíduos que são considerados pouco atraentes ou com sobrepeso.

Não apenas as pessoas que parecem mais velhas têm mais chance de serem cogitadas para desempenhar funções gerenciais de status elevado, como também são consideradas mais adequadas para empregos que exigem um nível mais alto de escolaridade.

Portanto, pessoas de rosto maduro têm resultados semelhantes no mercado de trabalho àquelas com alto desempenho“, diz Zebrowitz.

Hoje, mais velha, entendo essa visão dos clientes porque muitas vezes eu mesma me pego nesse questionamento quando deparo com profissionais mais jovens do que eu.

Não consigo chamar isso de preconceito, e sim numa defesa natural do nosso cérebro que nos afasta de situações de perigo ou pouco confiáveis. E a aparência jovem, na maioria das vezes, não transmite a credibilidade que buscamos em certos prestadores de serviços – como os advogados.

O caminho mais fácil para transformar essa percepção é mexer na aparência. Para homens normalmente sugerimos o uso de barba e roupas de cores mais sóbrias; para mulheres, o uso de maquiagem, cabelos com cortes e penteados mais formais e roupas com linhas retas.

Mas se a postura pessoal não acompanha essa aparência, a credibilidade não se sustenta. Novamente hoje, consigo enxergar que a juventude que meus clientes viam em mim no começo da carreira como advogada vinha da minha própria insegurança. Porque a postura séria e sóbria eu sempre tive, assim como a voz firme. Essas características sem dúvidas foram minhas aliadas naquela época. Mas só foi com o passar do tempo e com o fortalecimento da minha segurança interna que fui deixando de ouvir sobre minha juventude.

Sim, é claro, também envelheci, mas a credibilidade profissional chegou antes da idade.

A aparência de seriedade sempre foi meu porto seguro, em que me socorria quando a insegurança batia mais forte. Erguia o peito, subia no salto alto e falava firme – funcionava. Mas não há nada como aliar essa postura com a real sensação de autoconfiança – essa soma é poderosa! 

Quero dizer que, não basta trabalhar a “casca” se a essência não a sustentar. Sim, a aparência certamente ajuda nesse apoio, mas quanto mais verdadeira for a nossa segurança interna, mais ela transborda para além da aparência, contagiando nosso ouvinte.  

Projetando confiança genuína, real, automaticamente parecemos mais competentes, independentemente dos preconceitos que rondam a mente dos nossos clientes.


[1] Fonte: BBC Work Life.

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